O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou nesta terça-feira (23) que voltará a usar o termo "favelas

O Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) anunciou nesta terça-feira (23) que voltará a usar o termo
"favelas e comunidades urbanas
brasileiras" para se referir a esses locais no Censo.
A mudança acontece após 50 anos em
que o IBGE usou as expressões "aglomerados urbanos excepcionais" e
"setores especiais de aglomerados urbanos" e "aglomerados
subnormais" como o termo principal para se referir
a esses locais.
A alteração decorre, entre outros
fatores, da demanda dos moradores de favelas e comunidades urbanas. Segundo o
IBGE, o termo favela está vinculado à reivindicação
histórica por reconhecimento e identidade de movimentos populares .
Segundo o IBGE, o complemento
"comunidades urbanas" foi acrescentado pois, em muitos locais, o
termo "favela" não é o mais utilizado – há, por exemplo, áreas
chamadas de comunidades, quebradas, grotas, baixadas, alagados, vilas,
ressacas, mocambos, palafitas, loteamentos informais e vilas de malocas.
O Brasil tem mais de 10 mil favelas e
comunidades urbanas, em que vivem 16,6 milhões de pessoas (8% da população
brasileira), segundo a prévia do Censo de 2022.
“O reconhecimento das favelas pelo
IBGE é um marco histórico para a população brasileira. É um reconhecimento da
existência das favelas, da nossa força, da nossa potência", completa
Kalyne Lima, presidente da Central Única das Favelas (CUFA Brasil).
O que
são favelas e comunidades urbanas?
Para o IBGE, favelas e comunidades urbanas são regiões em que há
1. Domicílios
com graus diferenciados de insegurança jurídica da posse;
2. Ausência
ou oferta incompleta e/ou precária de serviços públicos, como iluminação, água,
esgoto, drenagem e coleta de lixo por parte de quem deveria fornecer esses
serviços;
3. Predomínio
de edificações, arruamento e infraestrutura geralmente feitos pela própria
comunidade e seguem parâmetros diferentes dos definidos pelos órgãos públicos;
4.
Localização em áreas com restrição à ocupação, como áreas de
rodovias e ferrovias, linhas de transmissão de energia e áreas protegidas,
entre outras; ou de risco.
De 'ocupação irregular' para 'insegurança jurídica
As definições acima também são diferentes das que eram
utilizadas anteriormente para definir favelas e comunidades urbanas.
Por
exemplo, antes, em vez de dizer que as favelas e comunidades urbanas são caracterizadas
por locais em que a população não tem segurança jurídica da posse de seus imóveis, o instituto dizia que eram
locais em que "ocupação irregular de terra em propriedades alheias
(pública ou privada)".
O
IBGE destaca que há diversos níveis de insegurança jurídica, e que cabe ao
Estado proteger contra despejos arbitrários.
Outro
que mudou é o que trata da falta de serviços públicos. Antes, o IBGE a descrevia como "precariedade de serviços
públicos essenciais". Agora, a descrição descata o papel das instituições
competentes na oferta desse serviços de forma adequada.
"[Isso] Evita rotular favelas
como intrinsecamente carentes, alertando para a necessidade de focar na oferta
precária de serviços públicos essenciais, em vez de qualificar as comunidades
como deficientes por si mesmas", diz o IBGE.
Também foi alterada a forma de se
referir aos padrões de construção do que existe
nas favelas. Antes, por exemplo, dizia-se que as comunidades eram
caracterizadas por calçadas de "largura irregular" por construções
não regularizadas pelo poder público. Agora, fala-se na existência majoritária
de imóveis, ruas e infraestrutura construídos pela própria população com
parâmetros distintos dos estabelecidos pelos órgãos públicos.
"Buscou-se evitar a
estigmatização das favelas e comunidades urbanas com essa mudança (...) Essas
populações desenvolveram lógicas próprias de organização espacial, que exigem
reconhecimento de suas especificidades", informa o IBGE.
A maior favela do Brasil é a Sol
Nascente, que fica no Distrito Federal, segundo dados da prévia do Censo 2022.
A região ultrapassou a Rocinha, no Rio de Janeiro, em número de domicílios (32
mil ante 31 mil).
Veja, abaixo, a lista das maiores
favelas e comunidades urbanas do Brasil, segundo a prévia do Censo do IBGE
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Sol Nascente, Brasília: 32.081
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Rocinha, Rio de Janeiro: 30.955
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Rio das Pedras, Rio de Janeiro: 27.573
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Beiru, Tancredo Neves: Salvador: 20.210
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Heliópolis, São Paulo: 20.016
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Paraisópolis, São Paulo: 18.912
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Pernambués, Salvador: 18.662
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Coroadinhoa, São Luís: 18.331
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Cidade de Deus/Alfredo Nascimento, Manaus: 17.721
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Comunidade São Lucas, Manaus: 17.666
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Baixada da Estrada Nova Jurunas, Belém: 15.601
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Alto Santa Teresina - Morro de Hemeterio - Skylab-Alto Zé Bon, Recife:
13.040
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Assentamento Sideral, Belém: 12.177
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Jacarezinho, Rio de Janeiro: 12.136
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Valéria, Salvador: 12.072
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Baixadas da Condor, Belém: 11.462
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Bacia do Una-Pereira, Belém: 11.453
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Zumbi dos Palmares/Nova Luz, Manaus: 11.326
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Santa Etelvina, Manaus: 10.460
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Cidade Olímpica, São Luís: 10.378
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Colônia Terra Nova, Manaus: 10.036