GARIS RELATAM: Nesta gestão estamos sendo tratados com menos valor do que o lixo que recolhemos nas ruas

GARIS RELATAM: Nesta gestão estamos sendo tratados com menos valor do que o lixo que recolhemos nas ruas

Ao longo dos 15 anos trabalhando como gari na cidade de Eunápolis, os servidores da coleta de lixo e limpeza urbana nunca imaginaram que um dia sentiriam tanto receio de ir para as ruas fazer a coleta de resíduos.
Um dos garis confidenciou a Ativa FM a arrogância com que são tratados pelo chefe do setor, que é o Marlon Cardim, primo da prefeita:
“Estamos trabalhando com medo. A população na rua ajuda a gente, dá máscara e tudo, dá apoio moral. Mas tá difícil. Muito. Vamos pra rua, deixamos nossa família em casa e voltamos daquele jeito... com medo, perseguidos, nenhum EPI nos é disponibilizado. Na antiga gestão recebíamos 4 camisas com manga para não sermos afetados pelo sol, hoje, recebemos duas camisas, e com um material inferior, rasga com muita facilidade”, desabafa. 
O gari ainda mostrou quão desgastada está a sua bota, e relata que a qualquer momento pode pisar em algo cortante ou ser picado por algum animal peçonhento. Ele prossegue dizendo que a prefeita sabe de tudo isso, mas que até o momento nada foi feito pela categoria, apenas perseguições e desprezo.
“Saímos de casa, oramos e pedimos pra Deus pra nunca acontecer o que tá acontecendo por aí. Mas se a gente não tiver na rua, é pior. Se não sairmos pra coletar, como é que vai ser? Como o pessoal vai ficar?”, questiona outra gari.
Os garis afirmam que são invisíveis para a atual gestão e que não têm direito a protetor solar, nem máscaras, botas e bolsas adequadas, chapéus e óculos de proteção, capa de chuva, entre outros materiais essenciais.
Os prejuízos são visíveis nos rostos castigados pelo trabalho diário debaixo do sol e os garis se queixam ainda de problemas físicos, como as dores de coluna, que estão entre as principais consequências do dia a dia na limpeza das ruas. Além disso, muitos já foram vítimas de acidentes.
Um dos relatos mais comoventes é o de seu João Carlos (nome fictício), efetivo há 19 anos, que sai de casa pra trabalhar com roupas comuns porque a farda original se desgastou completamente pelo uso. “Fui furado por um espeto durante o trabalho, foi uma ferida com muito sangue. Isso acontece porque a gente não tem nada, não recebemos nada. Não temos luva ideal pra esse trabalho, não temos máscara de proteção, nunca recebemos protetor solar. Nada. É um desengano, somos invisíveis”, disse o servidor, que usa um carro de coleta quebrado.
Outra história triste é a de dona Maria (nome fictício), que completou 14 anos de concurso público. Ela conta que por causa do trabalho sem proteção sob o sol, sofre com enxaquecas constantes. “É dor de cabeça direto. É muita falta de respeito. Eu nunca recebi nenhum par de botas, porque eles alegam que não encontram o meu tamanho, o que eu não entendo. A gente só escuta promessas”, afirmou. Assim como ela, dona Joana (nome fictício), queixa-se das vassouras e pás muito pesadas.
Alinne Werneck - Jornalista 


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